POEMAS

O Analfabeto Político

O pior analfabeto
é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado
e o pior de todos os bandidos:
O político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

Berthold Brecht





Elogio do Comunismo


Ele é razoável. Todos o compreendem. Ele é simples.
Você, por certo, não é nenhum explorador. Você pode entendê-lo.
Ele é bom para você. Informe-se sobre ele.
Os idiotas dizem-no idiota e os porcos dizem-no porco.
Ele é contra a sujeira e contra a estupidez.
Os exploradores dizem-no um crime, 
mas nós sabemos
que ele é o fim dos crimes;
ele não é a loucura e sim
o fim da loucura.
Não é o caos e sim
uma nova ordem.
Ele é a simplicidade.
O difícil de fazer.

Berthold Brecht





Da Violência


Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.

Berthold Brecht






Nossos inimigos dizem


Nossos inimigos dizem: a luta terminou.
Mas nós dizemos: ela começou.
Nossos inimigos dizem: a verdade está liquidada.
Mas nós sabemos: nós a sabemos ainda.
Nossos inimigos dizem: mesmo que ainda se conheça a verdade
ela não pode mais ser divulgada.
Mas nós a divulgaremos.
É a véspera da batalha.
É a preparação de nossos quadros.
É o estudo do plano de luta.
É o dia antes da queda de nossos inimigos

Berthold Brecht


8 de Março 

Na fogueira 
daquela fábrica
onde arderam
as meninas.
8 de março

Nas fogueiras
destas fábricas
onde ardem, ainda,
as herdeiras desta sina.

Na fogueira
onde queimaram
nossos sonhos,
tuas cinzas.

Nas fogueiras
queimas ainda,
como antes
bruxarias.

Na fogueira
preconceitos
invisíveis
queimas ainda.

Nas fogueiras
as meninas
pernas nuas
pelas ruas.

No fogo
em teu rosto
feito brasa
e hematoma.

Na fogueira
do teu sexo
que vestes
quando nua.

Das fogueiras
onde queima
tanta fúria
assassina.
Deste fogo, prometemos,
libertaremos
os teus sonhos
nossas filhas.

Este fogo
não se esquece:
nos aquece,
nos anima.

(Mauro Iasi)

Aos que virão depois de nós
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses,
Quando falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
Já está então inacessível aos amigos
Que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
Se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
Se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
E sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
Pagar o mal com o bem,
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!
II
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
Quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
E me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
Deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.
III
Vocês, que vão emergir das ondas
Em que nós perecemos, pensem,
Quando falarem das nossas fraquezas,
Nos tempos sombrios
De que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
Mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados!
Quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:
O ódio contra a baixeza
Também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
Faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
Que queríamos preparar o caminho para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
Em que o homem seja amigo do homem,
Pensem em nós
Com um pouco de compreensão.
Berthold Brecht





Despertar é preciso
"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada."
 Vladimir Maiakovski




Aula de Vôo
Às vezes sonho incoerências
Em desalinho com o meu tempo pequeno
Sonhos, assim, despudoradamente humanos
Sonhos, assim, desavergonhadamente felizes.

Ainda que a cidade triste desautorize
Ainda que as fábricas ergam seus muros cinzas
Onde guardam minha classe da luz do dia
E roubam seus corpos das carícias da noite.

Sonho subversivamente desperto
Que meu sonho está ali bem perto
Tanto que sinto cheiros descabidos
E minha boca antecipa o gosto dos delírios
Como se fossem pães recém-nascidos.

Sonho desavisadamente alegre
Com uma casa de janelas amplas
E jardins e flores e plantas
E discos e filmes e livros
E tanta sede e fome tanta
Que em qualquer fruta a ceia é santa.

Sonho que nos relógios quebrados e inúteis
As aranhas amarelas fazem com calma as suas casas
E em dias longos e quentes
Ex-lagartas apaixonadas estréiam suas novas asas.

Sonho que o mar fica ali em frente
Onde as ondas e as horas inquietas
Martelam as costas cansadas do continente
E na pele da praia do planeta,
A areia tritura seus minúsculos universos náufragos
Num contínuo mastigar de conchas e dentes.

Sonho, então, que caminhas… linda… pela praia
E nosso cão te acompanha alegre
E você é tão feliz… tão feliz…
Que quase esquece
De toda a pré-história da humanidade,
Da tragédia dos séculos
E da miséria destes anos
Em que andamos, por tanto tempo, militando.

Militando e sonhando que lutamos.
Lutando e militando porque sonhamos
Que o mundo pode ser, enfim, a casa onde moraremos
Sonhando, para sempre, que nos amamos.

Mauro Iasi





Hamlet - William Shakespeare

"Ser ou não ser - eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz ou pegar em armas contra um mar de angústias e combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer, dormir, só isso. E com o sono, dizem, extinguir as dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita. Eis uma consumação ardentemente desejável. Morrer, dormir. Dormir, talvez sonhar. Aí está o problema, os sonhos que virão no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto da vida nos obrigam a hesitar e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa, pois quem suportaria os açoites e os insultos do mundo? A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, a dor do amor desprezado, as delongas da lei, a prepotência do governante e o achincalhe que o homem paciente e dedicado recebe dos inúteis podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal? Quem aguentaria fardo gemendo e suando numa vida servil senão por temer alguma coisa após a morte - o país não descoberto de onde jamais voltou nenhum viajante - nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos a fugirmos para outros que desconhecemos. Assim, a reflexão faz todos nós covardes. Assim, a força natural de uma decisão se transforma em fétido pensamento e a empreitada de vigor e coragem saem de seu caminho e perdem nome de ação."